Por muito tempo a medicina ficou voltada ao prolongamento da vida, da busca da longevidade. Hoje em dia, além de viver mais, todos querem viver bem! Isso significa a busca da qualidade de vida associada à quantidade de vida.
A cirurgia bariátrica apresenta-se hoje como a primeira indicação no tratamento da obesidade mórbida. Sua efetividade na redução e manutenção da perda ponderal sobrepõe todos os antigos métodos de redução de peso em grandes obesos.
Esta perda está relacionada à redução de fatores de risco cardiovasculares e patologias relacionadas ao sobrepeso, como: hipertensão, diabetes, aterosclerose, infarto agudo do miocárdio, AVC, entre outros. Com isso, se ganha longevidade. Porém, a redução do peso traz ao paciente ganhos secundários: sentir-se mais bonito, melhor disposição física, maior libido sexual, retornar à atividades físicas antes impossíveis, etc. Essa melhora da auto-estima, do bem estar e da aceitação social são sentidas como melhora da qualidade de vida.
Toda essa grande transformação ocorre em média em 1,5 anos após a cirurgia bariátrica. Neste período, há enorme redução da massa corporal, acompanhada de grandes mudanças, como: mudança de postura (devido à alteração do centro de gravidade), mudança da alimentação (menor ingesta alimentar), mudança da auto-imagem (nova concepção corporal), mudança da silhueta (redução da gordura).
Estas mudanças drásticas e bruscas no plano físico e emocional enfatizam sobremaneira a necessidade da equipe multidisciplinar como apoio ao paciente de cirurgia bariátrica.
Seria desnecessário enfatizar a importância do cirurgião na orientação da liberação do tipo, intervalo e da quantidade da dieta, assim como da liberação de atividades físicas e dos cuidados com a cicatriz. Tudo isso tem relação direta com a evolução da cicatriz interna e do tipo de cirurgia realizada.
Devido à menor quantidade da ingesta alimentar, torna-se imperioso uma melhor qualidade da mesma: “Como se come pouco, é necessário comer bem!”. Ou seja, é preciso distribuir todas as vitaminas, micronutrientes, proteínas e carboidratos em um menor volume de comida. Esta é a importante tarefa do nutricionista.
Neste período de perda de peso, o corpo disponibiliza todas as formas de produção de energia, degradando carboidratos, gordura e proteínas. Isso significa que se perde também massa muscular na geração energética. Associada à tarefa da reorientação postural, necessária devido ao desbalanço do peso corporal, o fisioterapeuta tem a missão de manter íntegra a estrutura muscular, evitando o seu consumo, fortalecendo-a e realinhando-a, revertendo, entre a outras alterações, artralgias, lombalgias e vícios de postura.
Ao psicólogo cabe o acompanhamento de toda essa brusca mudança de habito alimentar, estilo de vida, auto-imagem corporal, que muitas vezes ocorrem mais rápido no plano físico que no emocional.
Por fim, com a grande redução da gordura corporal, pode ocorrer certa flacidez em alguma parte do corpo. Isso advém do excesso de pele resultante do grande estiramento desta pela gordura durante o período de obesidade. Com a redução da massa de gordura, há certa retração da pele, porém insuficiente para evitar a flacidez. A estabilização ponderal geralmente ocorre após 1,5 anos da cirurgia bariátrica, e é neste período que a cirurgia plástica poderá dar a sua contribuição, retirando excessos, corrigindo imperfeições, buscando a harmonização da silhueta corporal.
Conclusão
Porém, apesar da cirurgia plástica poder ser realizada em média após 1,5 anos do emagrecimento, as condições do seu sucesso são plantadas desde o primeiro dia pós-operatório da cirurgia bariátrica. O seguimento restrito das orientações do cirurgião é fundamental para evitar hérnias, ao nutricionista cabe evitar a anemia e carências vitamínicas que podem vir a comprometer a cicatriz, ao fisioterapeuta cabe a correção postural, ao psicólogo a reestruturação da auto-imagem, fundamental para a indicação da cirurgia plástica.
Como foi visto, apesar de aparentemente fragmentado, o tratamento do paciente obeso deve ser visto como único, completo e contínuo, desde a cirurgia bariátrica até a cirurgia plástica.
Dr. André Gonçalves de Freitas Colaneri
Cirurgião Plástico Especialista pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica